Como
especificar
empreendimentos
sustentáveis
Edição 257 - Agosto/2015
A engenharia preocupa a cada vez mais com sustentabilidade. Engenheiros são os
grandes responsáveis pelas transformações do planeta. São eles os cérebros que
fazem as contas, que estudam as possíveis e mais viáveis alterações a serem feitas ao meio-ambiente para acomodar
o ser humano. Esta reflexão, apartir da revista DE ARQUITETURA da PINI SISTEMA,
é uma forma de vermos a responsabilidade da intervenção e sua titularidade. Leiam:
A concepção de empreendimentos eficientes e que gerem menos impacto ao
meio ambiente requer dos arquitetos um conhecimento que vai além da
especificação de produtos cercados de adjetivos como "verde" e
"ecológico". As demandas atuais da sociedade exigem que a sustentabilidade
seja tratada como um requisito básico das edificações, e não mais como um artigo
de luxo ou argumento de marketing.
Por isso, um dos cuidados a serem tomados no momento da elaboração de um
projeto é fugir do "greenwashing", ou seja, da utilização de soluções
que em um primeiro momento parecem agregar sustentabilidade ao projeto, mas
que, na verdade, não diferem muito do produto tradicional. Isso pode ser feito,
por exemplo, com a verificação prévia do atendimento à legislação por parte do
fornecedor, incluindo normas técnicas. Também passa pela exigência de informações
detalhadas sobre os produtos a serem adquiridos. "Não basta dizer que a
tinta tem baixo índice de composto orgânico volátil em sua composição ou que
requer baixo consumo de água e energia para produção. É preciso informar
quanto", explica a arquiteta Cristina Umetsu, gerente da Equipe de
Consultoria de Projeto Sustentável e Eficiência Energética do Centro de
Tecnologia de Edificações (CTE).
Os selos verdes, que muitas vezes servem de parâmetro para a
especificação de soluções sustentáveis, são importantes ferramentas de apoio
para a tomada de decisão, mas devem ser usados com cautela. Para o professor da
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) e conselheiro do
Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS), Vanderley John, o fato de
o produto ter um selo é positivo, pois demonstra que o fabricante submeteu seu
produto a avaliações. Mas é preciso investigar quais foram os critérios de
análise, pois eles podem ser mais brandos do que a expectativa do consumidor.
"As certificações ambientais possuem papel fundamental na melhoria das
práticas de mercado, mas de forma alguma são garantias de plenitude
sustentável", acrescenta o arquiteto Marcelo Nudel, especialista em sustentabilidade
e eficiência energética da Arup no Brasil.
OLHO NO FUTURO
A adequação climática é um dos aspectos mais críticos. Para Marcelo, a
combinação entre orientação solar, formato do edifício, posicionamento correto
das fachadas de vidro e sombreamento externo é mais eficaz do que qualquer
tecnologia sustentável. "Vidros de alta eficiência são recursos
interessantes, mas devem ser explorados em segunda instância", diz. Para o
arquiteto, ignorar as condições climáticas é um dos erros mais cometidos quando
se concebe edifícios no Brasil. "O clima tropical não permite grandes
panos de vidro desprotegidos indiscriminadamente, mesmo que sejam de alta
eficiência, sob risco de perda significativa de eficiência energética, de
conforto térmico para os ocupantes e de gerar ofuscamentos", argumenta.
A análise de ciclo de vida da construção é outro ponto que precisa ser
mais trabalhado nos projetos. Embora os edifícios sejam concebidos para durar
ao menos cinco décadas, a regra ainda é privilegiar a economia na fase de
construção sem se ater ao retorno do investimento ao longo dos anos. Um exemplo
pode ser visto na instalação de hidrômetros para monitorar o consumo
individualizado e por uso final da edificação. Trata-se de um custo adicional
para a construção, mas que pode ser um grande instrumento de gestão para quem
vai cuidar do prédio. "Mesmo que o custo de instalação de um painel
fotovoltaico ou de um sistema de tratamento de esgoto seja impeditivo no
cenário atual, poderíamos ao menos projetar e construir uma infraestrutura
mínima para permitir a instalação futura de alguns equipamentos durante a
operação do prédio, sem ter que parar seu funcionamento", propõe Cristina.
Para ela, um grande problema é que, geralmente, as equipes que trabalham com
projeto e obra não conhecem a rotina e as dificuldades para a manutenção de um
edifício em funcionamento. "Seria importante termos um trabalho mais
integrado e com o envolvimento das equipes com experiência em operação predial
desde as fases iniciais de projeto, para evitar custos adicionais, retrabalhos,
paradas de operação e desperdício tecnológico", defende a arquiteta do
CTE.
Minimizar os impactos ambientais de um edifício passa, também, por um
processo de construção com ótima gestão. Boas práticas de projeto podem diminuir
perdas de materiais ao privilegiar a modulação de partes do edifício em função
de elementos construtivos disponíveis no mercado, ou ao garantir o
dimensionamento adequado das estruturas, evitando o uso desnecessário de
concreto e aço. (parte um)
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