Projeto
de captação de água pluvial deve estar alinhado com previsão de demanda do
condomínio
Para ser viável, operação do
sistema deve ter custo menor do que água captada da rede pública
Gabriel
Calviño
Edição
178 - Maio/2016
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Depois da primeira filtragem, água pluvial é
acumulada em cisterna e passa por nova filtragem e tratamento
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Os sistemas de captação da chuva
são uma alternativa racional para os condomínios residenciais e comerciais
aproveitarem a água que seria descartada e, ao mesmo tempo, reduzir os gastos
com o abastecimento pela rede pública. Para isso, o dimensionamento do sistema
deve estar adequado às demandas dos futuros condôminos, sem que a operação
custe mais do que a água fornecida pela concessionária.
Os sistemas de captação de água
pluvial são constituídos, basicamente, de receptor, peneira ou gradil,
reservatório, filtro, bomba e caixa d'água com tubulação independente.
A captação começa pelas calhas,
instaladas nos telhados dos prédios. Na sequência, a água da chuva passa por
uma filtragem simples, em que grades ou peneiras fazem a retenção dos resíduos
maiores, como folhas. Dali a água é encaminhada para um reservatório ou
cisterna, localizado geralmente na garagem do edifício. A água é armazenada
temporariamente nesse local, onde passa por nova filtragem e tratamento
(cloração, raio ultravioleta e/ou ozônio). Após essa etapa, é bombeada para uma
caixa d'água elevada, exclusiva para esse uso, de onde é redistribuída para os
apartamentos e áreas comuns por meio de uma tubulação independente.
O bom projeto para captação da
água pluvial é aquele que atende às necessidades de consumo de água dos futuros
usuários do prédio, sintetiza Ricardo Toscani, diretor de contratos da
Odebrecht Realizações Imobiliárias (OR). No empreendimento residencial Park
One, em São Paulo, a OR adotou um sistema desse tipo. O custo de implantação
foi de R$ 40 mil, com perspectiva de que o investimento se pague em cerca de
três anos e meio. O condomínio tem 1,7 mil m² de jardins, e o sistema foi
dimensionado para atender até três regas completas de toda essa área. "O
potencial de redução do consumo da água tratada fornecida pela concessionária
pode chegar a 2 mil litros em cada utilização", explica Toscani.
O diretor da OR ressalta que a
viabilidade econômica e operacional do sistema está relacionada à sua
concepção, que deve ocorrer ao mesmo tempo em que o projeto do empreendimento
está sendo desenvolvido. "O retorno é sempre maior no início da concepção.
Nessa fase, você consegue eliminar possíveis interferências futuras",
explica, citando chances de conflito com as demais instalações hidráulicas e
sistemas estruturais.
Uma vez implantado, o sistema é
capaz de prover economia relevante nas contas de água dos condomínios, afirma
Daniel Fazenda Freire, diretor-executivo da construtora D2F Engenharia. "A
redução é de 20% a 30% na conta. Em geral, em até quatro ou cinco anos você
paga o sistema", diz.
Contratação
A captação da água pluvial é regida especificamente pela NBR 15.527:2007
Água de Chuva - Aproveitamento de Coberturas em Áreas Urbanas Para Fins Não
Potáveis. A norma determina o uso da água só para fins não potáveis, como
irrigação de jardins, uso em descargas sanitárias e lavagens de pisos. Ali
também estão as principais referências técnicas para os equipamentos e para
manutenção, além da qualidade final da água. A norma rege apenas a captação da
chuva sobre os telhados, deixando de fora a água pluvial que escorre de
fachadas, garagens e quadras esportivas. Esses locais, ainda sem norma própria,
demandam sistemas específicos de tratamento da água, pois estão em contato com
outros resíduos, como os óleos que vazam de veículos.
O engenheiro Plínio Tomaz,
coordenador da formulação da NBR 15.527, recomenda que o projeto contratado
seja feito por profissionais especialistas da área, como engenheiros,
arquitetos ou tecnólogos. Segundo Tomaz, os erros mais comuns do projeto
acontecem exatamente pelo desconhecimento da norma. Entre esses erros estão o
dimensionamento incorreto dos reservatórios e a falta de clareza sobre a
frequência das análises da água. Ele conta que muitos projetistas também
esquecem de determinar o first flush, que é o descarte da primeira vazão de
água da chuva captada, pois ela concentra a sujeira acumulada no telhado,
enquanto as vazões seguintes são mais limpas.
Tomaz também recomenda que o contratante fique atento aos outros
critérios técnicos. As cisternas, por exemplo, devem atender aos requisitos da
NBR 12.217:1994 - Projeto de Reservatório de Distribuição de Água para
Abastecimento Público - Procedimento. Para cada tipo de uso, há um tamanho de
reservatório ideal. As fórmulas para estipular o volume correto da cisterna
para cada situação estão presentes no texto dessa norma.
Tratamento
O tipo de
tratamento da água deve ser detalhado pelo projeto e fica a cargo do
condomínio, que pode contratar uma empresa especializada nessa área para
realizar a manutenção. O estudo de viabilidade da adoção do sistema também
passa pela análise de aspectos econômicos, uma vez que essa operação gera
custos para o condomínio. "Na prática, ela pode inviabilizar o processo de
captação. Muitas vezes, isso acaba onerando o condomínio de uma forma em que
perde o sentido implantar o sistema, porque fica mais fácil pegar a água da
rede", pondera Freire, da D2F.
A norma 15.527 determina que a água passe por tratamento, com
frequências (mensais, trimestrais etc.) que variam conforme o aspecto
analisado, como nível de turbidez, grau de cloriformes, coloração, entre
outros. O tratamento da água é feito usualmente por meio de cloro, embora a
norma também mencione a possibilidade de se adotar outros processos de
desinfecção, como a aplicação de raio ultravioleta e ozônio.
Freire ressalta a importância dessas medidas para evitar a contaminação
da água por bactérias, já que a água na cisterna ainda carrega carga orgânica.
"As bactérias se proliferam na água parada. E para isso não precisa ter
muita carga orgânica."
O engenheiro acrescenta que as empresas contratantes do projeto devem
ficar atentas se os equipamentos têm a qualidade exigida para cada etapa do
tratamento. Um exemplo é o filtro presente na cisterna, que deve ser de aço
inox e dimensionado para o volume do reservatório. "O filtro de inox não
enferruja e evita a contaminação de ferro na água", explica.
CHECKLIST
- Verifique se as dimensões do
sistema estão em linha com a demanda de reúso de água prevista para o
condomínio
- Fique atento se o projeto tem
viabilidade econômica. A operação não pode custar mais do que a água da rede
pública
- Observe se a manutenção do sistema
e o tratamento da qualidade final da água estão detalhados no projeto
- Confira se os equipamentos
recomendados são feitos de materiais com a resistência adequada para seu uso
- Compre materiais apenas de empresas
bem conceituadas no mercado, com certificação garantida
NORMAS TÉCNICAS
NBR 15.527:2007 - Aproveitamento de Coberturas em Áreas Urbanas para
Fins Não Potáveis
NBR 12.217:1994 - Projeto de Reservatório de Distribuição de Água para
Abastecimento Público
NBR 10.844:1989 - Instalações Prediais de Águas Pluviais