quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Técnicas construtivas


Mitos e verdades: 10 perguntas e respostas sobre o EPS
Material inovador para a engenharia brasileira, o poliestireno expandido ainda suscita questionamentos quanto às suas propriedades e aplicações. Confira!
22/11/2019 - Hosana Pedroso
EPS tem aplicações em geotecnia, com viabilidade e segurança (Foto: Divulgação/ Grupo Iscorecort)


1 – EPS pega fogo?
Foto: XXLPhoto/ Shutterstock

Entre todos os plásticos, o poliestireno expandido (EPS) é o material que tem o desempenho mais seguro em situações de incêndio. Composto por apenas 2% de matéria sólida (poliestireno) e 98% de ar, ele simplesmente “encolhe” mediante elevadas temperaturas. A partir dos 80/100 graus, sua estrutura geométrica se deforma e as pérolas de poliestireno retornam ao seu estado original. Esse é exatamente o processo inverso ao da origem do EPS, ou seja, na sua fabricação, a matéria-prima se expande através do vapor d’água. No momento da sua reciclagem, um dos métodos é a termorreciclagem, que reduz o material através do calor. Além disso, 100% do material produzido no país, consumido pela construção civil, pertence à classe “F”, que recebe aditivo retardante à chama, para evitar a propagação do fogo.

“Na prática, 1 m³ de EPS, o equivalente a uma caixa d’água de 1.000 litros, tem a mesma quantidade de material plástico de quatro garrafas PET de 2 litros, vazias, gerando carga térmica similar. O que significa uma baixa carga térmica, para elevado volume de material”, comenta o engenheiro Denilson Rodrigues, consultor Técnico do Grupo Isorecort.
2 –EPS pode ser reciclado?
Foto: elwynn/ Shutterstock

Se deixado na natureza, o poliestireno expandido (EPS) não se degrada. Mas, se coletado e corretamente encaminhado, o material é integralmente reciclado, podendo retornar ao ciclo produtivo. No Brasil, 21% do EPS é reciclado – taxa próxima à da europeia, de 25%. Somente em 2016, 35 mil toneladas foram reutilizadas por vários segmentos industriais. A reciclagem é feita pelos sistemas mecânico – o mais usual – ou químico. No primeiro, o EPS totalmente limpo passa por extrusoras dotadas de degasagem, que retira o ar do material, reduzindo em 90% o seu volume total. A reciclagem química envolve reatores que mantêm as propriedades do poliestireno expandido. Na construção civil, o Material Reciclado (MR) é constituído de 20% de EPS reciclado e 80% de material virgem, que resulta num novo produto com densidade de 9 a 10 Kg/m³, próximo ao tipo 1. É utilizado como elemento inerte em lajes e pré-fôrma, entre outros.
“A reciclagem faz o EPS, assim como todos os plásticos, retornar ao ciclo produtivo, proporcionando diversos benefícios no pós-consumo”, afirma Ivam Michaltchuk, coordenador do Comitê de EPS do Instituto Plastivida.

3 – EPS pode ser empregado em obras de geotecnia?
Foto: Divulgação/ Grupo Isorecort

Países desenvolvidos empregam o poliestireno expandido (EPS) em geotecnia há mais de 30 anos. O material substitui aterros convencionais para execução de rodovias, ferrovias e muros de contenção, entre outras obras. Em ensaio recente realizado pelo Grupo Isorecort, em suas dependências, uma carreta padrão com carga pesando 53 toneladas transitou sobre a pista de 6 m de largura x 30 m comprimento. A construção da pista-teste obedeceu às etapas e materiais exigidos por esse sistema construtivo, que utilizou um total de 100 peças (145m³) de EPS do tipo 5F. O conjunto demonstrou excelente desempenho, conforme monitoramento e laudos feitos pelos laboratórios Falcão Bauer e LPC Latina. Veja detalhes: http://www.geosolution.com.br/
“O Grupo Isorecort está mostrando que o EPS é um material técnico, industrializado e que tem aplicações em geotecnia, com viabilidade e segurança”, destaca o professor doutor José Orlando Avesani Neto, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (EPUSP), que atuou como consultor da empresa nos ensaios.
4 – EPS pode ser usado em obras de infraestrutura?
Foto: Divulgação/ Grupo Isorecort

Resistente, leve e de fácil manuseio, podendo ser cortado no canteiro, o poliestireno expandido tem uso ilimitado nas obras de infraestrutura. Foi o caso da construção dos viadutos do lote 6 do trecho Norte do Rodoanel, entre os municípios de Guarulhos. Blocos de EPS do tipo 3F, com 13 kg/m³, foram empregados na autoestruturação dos pilares com acesso externo. Entre os benefícios, o material possibilitou a montagem dos pilares em qualquer medida, além da união de módulos para atingir o nível desejado. 

Outra obra de infraestrutura que utilizou o poliestireno expandido de forma inédita foi a do Sistema Produtor São Lourenço, parceria público-privada entre a Sabesp e o consórcio formado pela Camargo Correa e Andrade Gutierrez. O desafio de envelopar uma tubulação de 1.800 mm de aço carbono no interior de um túnel com 1.100 m de extensão foi vencido com o uso de 665 de peças de EPS, nas dimensões 2 x 1,25 x 0,40m. E ainda houve o ganho adicional de redução de custos com o uso de menor volume de concreto.

“As diferentes durezas do EPS também possibilitam executar concretagens de diversas alturas e espessuras de paredes”, diz o engenheiro Daniel Florence, gerente de Produção da Acciona na obra do Rodoanel Norte.
“Como todo o material só poderia ser transportado manualmente no ambiente confinado do túnel, precisaríamos de um material que fosse leve, porém resistente”, diz o engenheiro Eudóxio Pontes, gerente de Produção do Sistema Produtor São Lourenço S.A.
5 – EPS é isolante térmico?
Foto: Divulgação/ Grupo Isorecort

Nas coberturas e paredes, o poliestireno expandido promove o isolamento térmico das edificações. São vários os sistemas que utilizam o material, como as telhas metálicas com núcleo de EPS, já amplamente utilizadas pela construção civil. No caso das lajes nervuradas, as lajotas de EPS têm a função de material inerte (não estrutural) em substituição ao elemento cerâmico, com vantagens como a leveza e o isolamento térmico e acústico. Placas de EPS também são utilizadas sob o telhado, e sua especificação depende de cada projeto. Além das coberturas, as paredes erguidas com painéis monolíticos ou com tijolos de EPS agregam conforto térmico aos ambientes. Essa proteção é usual em módulos habitacionais de aço (containers), que exigem elemento com capacidade isolante. O uso do material em todas essas situações reduz e até mesmo elimina a necessidade de sistema de ar-condicionado nas edificações, economizando energia.

“Não há contraindicações quanto ao tipo de obra. Contudo, deve ser utilizado o EPS retardante à chama, seguindo as recomendações da NBR 11752 – Materiais celulares de poliestireno para isolamento térmico na construção civil e em câmaras frigoríficas”, orienta o engenheiro Danilo Magalhães Gomes, titular da M. Gomes Engenharia.

6 – É possível construir um sobrado com paredes de EPS?
Foto: Divulgação/ Grupo Isorecort

Laudos de oito ensaios realizados nos laboratórios do Instituto Lactec, no Paraná, para o Grupo Isorecort, comprovam o elevado desempenho dos painéis monolíticos de EPS. Os ensaios em relação às solicitações de cargas impostas revelam que os painéis monolíticos poderiam ser empregados para alturas maiores do que dois pavimentos, conforme diretriz que restringe o sistema ao uso estrutural, autoportante. Por outro lado, se empregados como fechamento, o material pode alcançar vários pavimentos. Sempre de acordo com as normas técnicas, os painéis monolíticos foram submetidos aos ensaios de Compressão Centrada; Verificação do Comportamento à Solicitação por Cargas Suspensas; Resistência a Impactos de Corpo Mole; Verificação da Resistência a Impactos de Corpo Duro; Resistência a Impacto de Corpo Mole em Portas; Fechamento Brusco da Porta; Verificação do Comportamento do SVVE à Ação de Calor e Choque Térmico; Verificação da Estanqueidade à Água em Vedação Vertical Externa.
“As conexões entre os painéis monolíticos de EPS e outros elementos construtivos são totalmente compatíveis. É possível conectá-los, amarrá-los, prendê-los a outros sistemas”, diz o técnico de laboratório Rafael Arnecke, do Instituto Lactec.
7 – EPS serve para execução de lajes?
Foto: Divulgação/ Grupo Isorecort

As lajotas de poliestireno expandido como elemento inerte nas lajes nervuradas resultam numa série de vantagens sobre o elemento cerâmico. Além da economia de materiais – concreto, madeira e aço –, elas não quebram durante o transporte e montagem, e o corte das peças pode ser feito facilmente no canteiro. Substituindo as peças cerâmicas, com a vantagem adicional da leveza, as lajotas de EPS permitem a execução de estruturas unidirecionais e bidirecionais. Lajes pré-fabricadas com a inserção de EPS vencem vãos de até 12 m, enquanto nas nervuradas com protensão nas nervuras os vãos podem chegar a 20 m. O material tem dimensões que variam de 65 até 250 mm.

“O EPS é muito utilizado na construção de lajes em residências, lojas e pequenos galpões, por dispensar o uso de fôrmas de madeira”, comenta o engenheiro Enio Canavello Barbosa, vice-presidente de Relacionamento da Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural (Abece).
8 – EPS tem longa vida útil?
Foto: Divulgação/ Grupo Isorecort

A durabilidade do material é indeterminada, mas poderá ser a mesma da edificação. A razão está na sua composição: poliestireno expandido e ar fazem do EPS um material inerte e atóxico. Nele não se desenvolvem microrganismos ou pequenos insetos, como ocorre com a madeira, por exemplo. Isto porque o EPS não absorve a umidade do ar, fator essencial para a multiplicação de seres vivos. Isento do ataque por fungos e bactérias, não deteriora. Sua longa vida útil só será comprometida diante de alguns compostos à base de petróleo, como a gasolina. Daí a exigência de envelopamento dos blocos de EPS em obras de geotecnia em rodovias, proteção para o caso de vazamento de combustível para o subsolo.
“A integração com outros materiais, como aço e concreto, não interfere na elevada durabilidade do EPS”, destaca Ivam Michaltchuk, conselheiro e coordenador do Comitê do EPS do Instituto Plastivida.
9 – EPS é sustentável?
Foto: Divulgação/ Grupo Isorecort

Há uma série de razões que, somadas, levam à conclusão de que o poliestireno expandido é material amigável à natureza e, na construção civil, pode compor edificações candidatas ao selo Leadership in Energy and Environmental Design (LEED). Vamos a elas: 
O EPS é 100% reciclável

Resíduos do poliestireno expandido podem ser usados de diferentes maneiras, como na fabricação de concreto leve

Mesmo quando descartado incorretamente, o EPS é inerte e não sofre alterações físicas, químicas ou biológicas, não liberando gases nocivos

Em seu processo produtivo, consome pouca energia, não gera resíduos e não utiliza gás CFC — nocivo à camada de ozônio e contribuinte para o aquecimento global

É isolante térmico, o que contribui para a redução do consumo de energia com sistema de ar-condicionado

Na modalidade Material Reciclado (MR), é composto por 20% de sobras de EPS reciclado e 80% de matéria-prima virgem, estando de acordo com o conceito de pré-consumo

É material de longa vida útil

Extremamente leve, o EPS é de fácil transporte, podendo ser utilizados veículos pequenos ou mesmo carretas, num número menor de viagens, o que evita o lançamento de grandes volumes de CO2 na atmosfera
“O EPS está fora da RED List, ou seja, é material que não causa danos à saúde humana”, destaca o engenheiro Eduardo Straub, sócio da consultoria StraubJunqueira.
10 – EPS é resistente?
Foto: Divulgação/ Grupo Isorecort

Aparentemente frágil, o poliestireno expandido é material altamente resistente à compressão, a flexão e à tração. Essas propriedades mecânicas decorrem diretamente de sua densidade, que vai de 10 kg/m³ até 46 kg/m³. É interessante observar que, mediante compressão e dependendo da densidade, a peça de EPS se retrai até certo ponto. Quando retirada a força, o material retorna a seu estado original. Porém, se a força de compressão for incompatível com a densidade do material, ocorrerá deformação permanente de parte das células, que não se rompem. Daí a importância da especificação correta para cada tipo de uso de EPS. A resistência à flexão é bastante elevada. De acordo com a American Society for Testing and Materials (ASTM), em obras geotécnicas, uma peça com densidade de 46 kg/m³ atinge 517 kPa, mas se tiver 12 kg/m³ a resistência será de 69 KPa.